CARTA ABERTA A SOCIEDADE E AOS SERVIÇOS DE PROTEÇÃO AS MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DE IMPERATRIZ
RESPONSABILIDADE COLETIVA FRENTE À FEMINICÍDIOS EM IMPERATRIZ- MARANHÃO
O último caso de feminicídio
noticiado em Imperatriz refere-se ao assassinato de uma jovem de 19 anos, cuja passagem
pelos serviços de saúde, apresentando cortes e hematomas, já realizados em seu
corpo pelo feminicida, requer parada para reflexão urgente.
Notas
de pesar e ou responsabilização da jovem ou de algum de seus familiares por uma
tragédia EVITÁVEL, além de absolutamente cruel,
refirmam a culpa da mulher por seu próprio óbito e IMPEDE QUE SE DISCUTA E SE TOME AS PROVIDÊNCIAS NECESSÁRIAS PARA
EFETIVAMENTE PREVENIR ESTA PANDEMIA PARALELA A DA COVID-19.
Feminicídos
NÃO SÃO FATALIDADES, portanto constituem um fenômeno EVITÁVEL. Ou
cada instituição e serviço de Proteção à Mulher assume que precisa fazer uma
reflexão séria para que se possa efetivamente por em prática ações que comecem a
minimizar a chacina de mulheres no Maranhão, ou estaremos sendo coniventes com
as tragédias já ocorridas e com as por vir.
A omissão e o silenciamento
no que se refere a debates, discussões e correções de rumos de cada instituição e serviços que deveriam atuar em Rede precisam cessar urgentemente. Já estamos
atrasadas, pois cada vez que um
feminicida atira em uma mulher ele não está atirando sozinho. Nossa inércia
define o descrédito da população nos nossos serviços, além de determinar a
impunidade, o que define um ciclo vicioso sem fim!!
O que dizer do desconhecimento da sociedade e de amplos setores de profissionais da saúde e da assistência social, sobre a existência e como acessar as instituições e serviços de proteção as mulheres vitimas de violência no município? Violência Institucional.
O que dizer das inúmeras prescrições
processuais? Violência institucional.
O que dizer das ações penais
privadas, que atacariam a violência psicológica e moral da vítima e não são
ajuizadas em tempo pela defensoria? Violência Institucional.
O que dizer sobre à
ausência de política municipal e estadual em relação aos Centros Especializados
de Responsabilização de Autores de Violência Contra a Mulher? Violência Institucional.
O que dizer sobre a ausência
de campanhas focando a não responsabilização da vítima e divulgando os serviços
de acolhimento? Violência Institucional.
O que dizer da alegação dos
oficiais de justiça, que não encontram os endereços de vítimas e agressores
porque as casas não estão numeradas? Violência institucional.
O que dizer das inúmeras Notificações Compulsórias de Violência Contra a Mulher não realizadas nos hospitais, UPAs e Unidades Básicas de Saúde ou das realizadas e não encaminhadas imediatamente aos serviços especializados no atendimento as vítimas (CRAM, DEM, DEFENSORIA e PROMOTORIA)? Violência Institucional.
O que dizer da ausência da Rede
Especializada em Saúde no Atendimento a Mulher em Situação de Violência?
Violência Institucional.
O que dizer de serviços
especializados que não funcionam 24hs, finais de semana e feriados? Violência
Institucional.
O que dizer de serviços
especializados com profissionais compondo equipes que nunca foram
qualificadas/capacitadas para realizar o atendimento das vítimas e seus
familiares? Violência Institucional.
Quantas mortes mais teremos
que vivenciar, como cúmplices por omissão ou ação que revitimiza? Ao invés de
coibir, punir e prevenir a violação de DIREITOS HUMANOS DE MULHERES estamos concorrendo para a naturalização da
violência de gênero e para a perpetuação do machismo institucional DENTRO DAS
INSTITUIÇÕES QUE POSSUEM O DEVER ESTATAL, RECEBENDO DINHEIRO PÚBLICO PARA ISSO, para assistirem a morte de fato e morte em vida TODOS OS DIAS de milhares de mulheres!
Pelo funcionamento em REDE dos serviços especializados na prevenção, proteção e assistência as vitimas de violência doméstica e familiar.
Pela prestação de serviços especializados por profissionais com expertise e comprometidos com a promoção da vida das mulheres.
A culpa NUNCA é da vítima, e nem de seus familiares.
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Marta Xavier