A tragédia anunciada durante uma década
09.01.2017 - Nota coletiva de posição sobre a ‘Chacina de Campinas’
Uma introdução necessária
Há uma semana, na madrugada do dia 1º de janeiro, na cidade de Campinas, São Paulo, ocorreu o feminicídio de Isamara Filier e mais oito mulheres de sua família. O crime motivou a Nota abaixo, que foi assinada por organizações de todo o país, assim como um ato naquela cidade, realizado em 05 de janeiro. Outro caso foi noticiado na mesma semana, desta vez em Feira de Santana, Bahia, com cinco mulheres assassinadas, entre filhas e parentes do criminoso, que se encontra foragido. Ainda nesta primeira semana do ano registram-se duas chacinas, ambas em presídios masculinos, e por todo o país circulam notícias de violência: feminicídios, tentativas de homicídio e estupros; agressão a parlamentares de esquerda; violência policial e morte de jovens negros nas comunidades. Os noticiários estampam também a crescente visão conservadora, por parte da população brasileira, a respeito de questões sociais, e uma pesquisa revela aumento no apoio à pena de morte e à redução da maioridade penal.
Feministas, companheiros ativistas e analistas sociais temos apontado o discurso de ódio que desde 2013 vem sendo disseminado pela mídia corporativa e nas redes sociais, de forma escancarada ou velada, como componente fundamental desta triste realidade. Identificamos, neste discurso, uma narrativa que diferencia‘mulheres de boa índole’ de vadias, ‘cidadãos de bem’ de bandidos, ‘cidadãos pacatos’ de vândalos, ‘políticos do bem’ de corruptos, negando aos segundos a condição de cidadania e autonomia, o direito à livre expressão e o acesso à justiça com direito defesa. Indo mais longe nesta análise, o feminismo tem denunciado a misoginia, o ódio às mulheres tão exacerbado no processo de golpe parlamentar – ou impeachment - contra a presidenta Dilma Russef. Nesses argumentos, que contam com crescente adesão, tudo se pode contra as ‘vadias’, contra os ‘bandidos’, os ‘vândalos’.
Esta narrativa nos desumaniza a todos, homens e mulheres de nossa sociedade, sejam os agressores ou as pessoas agredidas, sejam os assassinos ou as pessoas assassinadas. Teria a formação social brasileira algo a ver com isto? É sempre necessário trazer à memória coletiva que somos um país construído pelo genocídio e pelo rapto, tráfico e escravização de pessoas, indígenas e negras. Terá esta história embasado o costume de achar que é natural termos ‘os que nada podem’, contra os quais ‘os de bem’ tudo podem? É tempo de olhar nossa tragédia de frente, e repensar nossas práticas e valores revisitando e reconhecendo os crimes contra a humanidade de milhões de pessoas, cometidos no passado e no presente na sociedade brasileira em nome de uma minoria de ‘pessoas de bem’.
Esta Nota Coletiva foi lançada em 03.01.2017 e passou a receber muitas adesões e apoios. Ao longo da semana a Nota foi divulgada a cada dia com novas assinaturas. Hoje, 09.01.2017 divulgamos a versão final contendo o texto e todas as assinaturas recebidas até 15h.
Assinam: articulações, movimentos sociais e redes nacionais; fóruns, movimentos, organizações sindicais e outras de âmbito estadual; grupos, coletivos e associações locais de mulheres e várias entidades sociais, coletivos político-profissionais, núcleos de estudos de universidades. Nesta versão inclui-se assinaturas de um conjunto de advogadas que assessoram o movimento e atuam articuladamente na discussão e defesa da lei Maria da Penha, algumas das quais contribuiu com a elaboração da Nota, além da assinatura da própria Maria da Penha.
A NOTA
A tragédia anunciada durante uma década.
Era fim de ano, tempo de comemorar a chegada de um novo janeiro e o alento para os horizontes que estavam por vir. O Brasil, porém, amanhecia impactado com a forte repercussão de um crime violento cometido por um homem inconformado com o fim de uma relação. Entre os argumentos para assassinar o agressor usou, em sua defesa, a vida da mulher e o desejo dela por liberdade. Era 1976, exatamente 30 de dezembro; e a vítima, Ângela Diniz.
Quarenta anos depois, em 1º de janeiro de 2017, tivemos nossa esperança no novo ano abatida por um feminicídio que levou a violência a outro patamar. Ao assassinar nove mulheres de um mesmo círculo de relações em Campinas (SP), Sidnei Ramis de Araújo indicou que, para lavar sua honra, não bastava matar a ex-companheira, o alvo de seu ódio. Foi necessário acabar com a vida de parentes e amigas.
Além da quantidade de vítimas fatais no crime, a carta deixada pelo agressor confirma a potência letal do ódio a mulheres. Se nos 40 anos que separam os crimes de Doca Street e Sidnei Ramis de Araújo nós, mulheres brasileiras, avançamos em direitos, a estrutura de dominação patriarcal – responsável por matar 13 mulheres diariamente no país – conseguiu criar barreiras contra nossa conquista de uma vida plena de direitos.
Uma consulta a arquivos sobre feminicídios indicou esse como primeiro caso em que o assassino constrói uma narrativa em relação à lei que protege mulheres e crianças das agressões domésticas: “Filho, não sou machista e não tenho raiva das mulheres (essas de boa índole, eu amo de coração, tanto é que me apaixonei por uma mulher maravilhosa, a Kátia) tenho raiva das vadias que se proliferam e muito a cada dia se beneficiando da lei vadia da penha!”
Além das investigações e da responsabilização de eventuais envolvidos no crime (por ação ou negligência), é necessário refletir sobre como os poderes públicos têm colocado em xeque a Lei Maria da Penha. Apesar de ser uma das nossas maiores conquistas, junto com a aprovação da lei do Feminicídio, a punição dos agressores e a prevenção concreta dos crimes ainda demandam mobilização social. Uma avaliação do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) apontou que a Lei conseguiu reduzir em 10% os homicídios de mulheres por violência doméstica, mas que ainda há diferentes graus de institucionalização dos serviços protetivos às vítimas pelo país.
Isamara Filier, ao longo de 10 anos, período que coincide com a aprovação da Lei Maria da Penha, registrou cinco boletins de ocorrência contra o ex-companheiro por agressão e ameaça, e também por abuso sexual contra seu filho. Sua morte se anunciava desde 2005. Onze anos depois, com o Estado falhando na prevenção e na proteção, o crime se concretiza.
O desejo de exterminar a maior quantidade possível de mulheres da mesma família – como ficou claro na carta divulgada pela imprensa – é um alerta. O ódio dos agressores de mulheres têm sim potencial para construir grandes tragédias. É com essa realidade que todos os atores sociais – os sistemas de Justiça, de assistência social, e também os de educação e os meios de comunicação – precisam lidar ao tratar da violência contra as mulheres. Somos o quinto país que mais assassina mulheres no mundo. Na visão de agressores como Sidnei, esta semana, ou Doca Street, 40 anos atrás, vadias somos todas nós mulheres que lutamos por liberdade e autonomia.
A morte de Isamara, seu filho, amigas e familiares demonstra que as Leis não findam em si mesmas. A violência contra as mulheres é um problema estrutural da cultura machista, racista e homo-lesbo-transfóbica, que nega às mulheres o direito a uma vida livre e plena.
Nós – mulheres do movimento feminista organizado – não podemos deixar que a impunidade se perpetue. Comprometemo-nos a cobrar punições de imediato. Em paralelo aos avanços nas legislações, que precisam ser implementadas verdadeiramente, seguimos também na luta pela transformação da sociedade voltada à construção de um país que garanta uma vida sem violência para todas as pessoas.
Assinam:
Articulação de Mulheres Brasileiras - AMB
Articulação de Mulheres Brasileiras - AMB
AMA Articulação de Mulheres do
Amazonas (AM)
AMB Mato Grosso do Sul (MS)
AMB Rio, Rio de Janeiro (RJ)
AMB São Paulo (SP)
Articulação Aids Pernambuco,
Recife (PE)
Articulação de Mulheres do Amapá
(AP)
Articulação de Mulheres Indígenas
do Maranhão (AMIMA, MA)
Articulação
de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras - AOMNB
Articulação do Movimento de
Mulheres de Bairros do Recife (PE)
Articulação dos Povos Indígenas do
Brasil - APIB
Associação Brasileira de Mulheres
da Carreira Jurídica – Espirito Santo (ES)
Associação Catarinas,
Florianópolis (SC)
Associação de Mulheres Amigas de
Itinga AMMIGA (BA)
Associação de Mulheres Buscando
Libertação, Cariacica (ES)
Associação de Mulheres da Serra
(ES)
Associação de Mulheres do Bacuri e
Adjacências (MA)
Bamidelê Organização de Mulheres
Negras da Paraíba (PB)
Cabelaço (PE)
Casa Chiquinha Gonzaga (CE)
Casa da Mulher 8 de Março (TO)
Casa da Mulher do Nordeste (PE)
Centro Acadêmico de História
Bem-Te-Vis UEMA (MA)
Centro de Cultura Luis Freira (PE)
Centro de Direitos Humanos Pe.
Josino (MA)
Centro Feminista de Estudos e
Assessoria - CFEMEA (DF)
Cepia Cidadania, Estudo, Pesquisa,
Informação, Ação (RJ)
Cidadãs Positivas de Pernambuco
(PE)
Coco de Mulheres (PE)
Coletiva de Mulheres de Lauro de
Freitas (BA)
Coletiva Feminista Diadorim (PE)
Coletivo Alumiá (SP)
Coletivo Coco das Manas (PB)
Coletivo de Lésbicas e Mulheres
Bissexuais (PE)
Coletivo de Mulheres Casa Lilás
(PE)
Coletivo de Mulheres de Altamira e
Região da Transamazonica (PA)
Coletivo de Mulheres de Jaboatão
(PE)
Coletivo de Mulheres de Jaboatão
(PE)
Coletivo de Mulheres Defensoras
Públicas do Brasil
Coletivo de Mulheres do Calafate
(BA)
Coletivo de Mulheres do Calafate
(BA)
Coletivo de Mulheres Negras
Carolinas (RN)
Coletivo de Mulheres Passirenses,
(PE)
Coletivo Feminista Gendac Gênero,
Mulher, Desenvolvimento e Ação (PI)
Coletivo Filhas da Luta (RS)
Coletivo Marcha das Vadias Recife
(PE)
Coletivo Maria Vai Com As Outras
(ES)
Coletivo Mulher Vida (PE)
Coletivo Nacional de Mulheres do
PSOL e Insurgência PSOL
Coletivo Quebrando Vidraças (PE)
Comitê Latino-Americano e do
Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher (CLADEM/Brasil)
Comitê Popular Urbano de Belém
(PA)
Coordenação e Articulação dos
Povos Indígenas do Maranhão (MA)
Coordenação Nacional da
Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas - CONAQ
Cunhã Coletivo Feminista (PB)
Diaconia Organização Cristã de
Defesa dos Direitos Humanos e Promoção da Justiça (CE)
Diretoria de Políticas para
Mulheres da Federação dos Trabalhadores Rurais de Pernambuco (PE)
Em solidariedade: Articulação
Feminista MarcoSur (America Latina)
Espaço Feminista URI HI (AM)
Espaço Mulher (PE)
FASE
Federação dos Trabalhadores do
Serviço Público Municipal do Ceará (CE)
Federação dos Trabalhadores em
Estabelecimentos de Ensino e no Serviço Público no Sul do Maranhão (MA)
Federação dos Trabalhadores Rurais
e Agricultores e Agricultoras Familiares do Ceará (CE)
Federação Nacional das
Trabalhadoras Domésticas - FENATRAD
Fórum Cearense de Mulheres (CE)
Fórum de Mulheres da Amazônia
Paraense (PA)
Fórum de Mulheres de Imperatriz
(MA)
Fórum de Mulheres de Jaboatão (PE)
Fórum de Mulheres de Pernambuco
(PE)
Fórum de Mulheres do Amapá (AP)
Fórum de Mulheres do Distrito
Federal e Entorno (DF)
Fórum de Mulheres do Espírito
Santo (ES)
Fórum de Mulheres do Rio Grande do
Norte (RN)
Fórum de Mulheres do Sertão do Araripe
(PE)
Fórum de Mulheres do Sertão do
Pajeú (PE)
Fórum de Mulheres Maranhense (MA)
Fórum Feminista do Rio de Janeiro
(RJ)
Fórum Justiça (RJ)
Fórum Permanente das Mulheres de
Manaus (AM)
Grupo Alternativo de Geração de
Renda da Economia Solidária (PA)
Grupo Cidadania Feminina (PE)
Grupo Cultural Femini Nação (PE)
Grupo Curumim (PE)
Grupo de Estudos e Pesquisas em
Autobiografias, Racismo e Antirracismo na Educação UFPE (PE)
Grupo de Mulheres Brasileiras (PA)
Grupo de Mulheres Jurema (PE)
Grupo de Mulheres Jurema (PE)
Grupo de Pesquisa Movimentos
Sociais, Educação e Cidadania na Amazônia – UEPA (PA)
Grupo Marietta Baderna da Rede
Nacional de Advogados Populares - RENAP
Grupo Mulher Maravilha (PE)
GT de Mulheres de Axé da Rede
Nacional de Religiões Afro Brasileira - REAFRO
GTP+ (PE)
IMAIS (BA)
Instituto Amazônia Solidária IAMAS
(PA)
Instituto de Estudos de Gênero
IEG-UFSC (SC)
Instituto de Mulheres Negras do
Amapá IMENA (AP)
Instituto em Tempos de Ayoká (CE)
Instituto Inegra (CE)
Instituto Maria da Penha (CE)
Instituto Papai (PE)
Instituto Paulo Fonteles de
Direitos Humanos (PA)
Laboratório de Relações de Gênero
e Família UDESC (SC)
Levante Popular da Juventude (PA)
Mirin Brasil (PE)
Movimento Articulado de Mulheres
da Amazônia – MAMA
Movimento da Mulher
Trabalhadora Rural do Nordeste MMTR-NE
Movimento de Mulheres Camponesas -
MMC
Movimento de Mulheres da Floresta
– Dandara (AM)
Movimento de Mulheres de Altamira
Campo e Cidade (PA)
Movimento de Mulheres Negras de
Colatina e Região de Zacimba Gaba (ES)
Movimento de Mulheres Solidária do
Amazonas (AM)
Movimento de Promotoras Legais
Populares de Mauá (SP)
Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra - MST
Movimento e Articulação de
Mulheres do Estado do Pará (PA)
Movimento Ibiapabano de Mulheres
(CE)
Movimento Mais Mulheres OAB
Roraima (RR)
N30 Pesquisas (RJ)
Núcleo Amélias da Marcha Mundial
de Mulheres ( RN)
Núcleo de Estudos da Mulher Simone
de Bouvoir UFRN (RN)
Núcleo de Estudos e Pesquisas
sobre a Mulher UFMG (MG)
Núcleo de Identidades de Gênero e
Subjetividades UFSC (SC)
Núcleo de Mulheres de Roraima –
NUMUR (RR)
Observatório da Mulher (SP)
#partidA - construindo a
democracia feminista
Projeto de Extensão Maria da
Penha/UnB (DF)
Rede de Mulheres de Terreiro (PE)
Rede de Mulheres em Articulação da
Paraíba (PB)
Rede de Mulheres Negras de
Pernambuco (PE)
Rede de Mulheres Negras do
Nordeste
Rede Nacional de Pessoas com HIV e
Aids
Rede Nacional Feminista de Saúde
Direitos Reprodutivos e Direitos Sexuais
Redeh Rede de Desenvolvimento
Humano, (RJ)
Rua Juventude Anticapitalista
Secretaria Estadual de Mulheres da
CUT no CE e em PE
Secretaria Estadual de Mulheres do
PT em PE, AM e PA
Secretaria Nacional da Mulher
Trabalhadora da CUT
Sindicato das Trabalhadoras
Domésticas de Pernambuco (PE)
Sindicato dos Professores
Especialistas de Imperatriz (MA)
Sítio Agatha – Espaço de
Agroecologia Militante Feminista Étnico-Racial
SOS Corpo - Instituto Feminista
para Democracia (PE)
Tribo Aldeia da Juventude (PA)
Uialá Mukaji Sociedade de Mulheres
Negras (PE)
União Brasileira de Mulheres UBM
União de Mulheres da Amazônia
Brasileira UMIAB
Zalika – Maternidade, Parto e
Infância (ES)
Advogadas: Arlanza Rebello, defensora pública no Rio de Janeiro; Ana Carolina Caruso Cavazza, advogada e conselheira do Conselho Municipal da Mulher de Campinas; Andreia Aparecida Silvério dos Santos, advogada da Comissão Pastoral da Terra; Ana Cacilda Rezende Reis, advogada; Ana Luiza Cabreira, advogada popular; Ana Flávia Couto Vilela de Andrade, advogada popular; Angélica Limberger, advogada; Carmem Hein de Campos, professora do Mestrado em Segurança Pública UVV/ES; Daniella Alencar Matias, advogada popular; Diana Melo, advogada popular; Deíse Camargo Maito, advogada e mestranda em Direito pela USP; Denise da Veiga Alves, advogada popular; Ela Wiecko Wolkmer de Castilho, professora de Direito da UnB; Érika Lula de Medeiros, advogada; Erina Batista, advogada; Flavia Carlet, doutoranda em sociologia do Direito pela Universidade de Coimbra; Fernanda Cristina Moura, advogada popular; Fabiana Cristina Severi, professora da Direito da USP; Fabiane Simioni, professora de Direito da FURG; Gisele Flügel Mathias Barreto, advogada; Fernanda Cristina Moura, advogada; Iáris Ramalho Cortês, advogada e sócia do CFEMEA; Ingrid Soares, advogada popular; Julianne Melo dos Santos, advogada; Lívia Casseres, defensora pública no Rio de Janeiro (RJ); Luciana Silva Garcia, advogada e doutoranda em Direito pela UnB; Larissa Vieira, advogada popular e integrante do Coletivo Margarida Alves; Lorena Nunes Aguiar, advogada popular; Lenir Correia Coelho, advogada popular; Marília Lomanto Veloso, advogada popular; Marcilene Aparecida Ferreira, advogada; Mariana Mei de Sousa, advogada; Marina Basso Lacerda, advogada; Marcilene Aparecida Ferreira, advogada; Maria da Penha Maia Fernandes, fundadora do Instituto Maria da Penha; Myllena Calasans de Matos, colaboradora do Cladem/Brasil; Priscylla Joca, doutoranda em Direito pela Universidade de Montreal (Canadá); Rosane M. Reis Lavigne, defensora pública no Rio de Janeiro (RJ) e integrante do Fórum Justiça Rubia Abs da Cruz, coordenadora nacional do Cladem/Brasil; Renata Jardim, coordenadora do Centro de Referência para Mulheres Vítimas de Violência Patrícia Esber, Canoas (RS); Silvia Pimentel, professora de Direito da PUC de São Paulo; Sônia Maria Alves da Costa, advogada e doutoranda em Direito pela UnB; Tayse Ribeiro de Castro Palitot, advogada popular do coletivo Tancredo Fernandes e mestrada em Direitos Humanos pela UFPB; Vera Lúcia Santana Araújo, advogada.
Nota coletiva de posição
sobre a ‘Chacina de Campinas’ 05.01.2017
TODO APOIO AO
ATO EM CAMPINAS HOJE, 05.01.2017, 17h no Largo do Rosário.
Mais
organizações feministas e
organizações aliadas da luta feminista somam-se na dor e no repúdio ao
feminicídio coletivo, seguido de
suicídio, ocorrido na madrugada do 1 de janeiro, em Campinas-SP. Esta nota faz novo alerta feminista
ao sistema de justiça, de educação, de assistência social e à midia. A adesão
segue aberta a todas às organizações dos movimentos sociais. Pelo direito à uma vida sem violência!(*)
A tragédia
anunciada durante uma década. (nota completa com adesões até 15h de 05.01.2017)
Era fim de
ano, tempo de comemorar a chegada de um novo janeiro e o alento para os
horizontes que estavam por vir. O
Brasil, porém, amanhecia impactado com a forte repercussão de um crime violento
cometido por um homem inconformado com o fim de uma relação. Entre os
argumentos para assassinar o agressor usou, em sua defesa, a vida da mulher e o
desejo dela por liberdade. Era 1976, exatamente 30 de dezembro; e a vítima,
Ângela Diniz.
Quarenta anos
depois, em 1º de janeiro de 2017, tivemos nossa esperança no novo ano abatida
por um feminicídio que levou a violência a outro patamar. Ao assassinar nove
mulheres de um mesmo círculo de relações em Campinas (SP), Sidnei Ramis de
Araújo indicou que, para lavar sua honra, não bastava matar a ex-companheira, o alvo de seu ódio.
Foi necessário acabar com a vida de parentes e amigas.
Além da
quantidade de vítimas fatais no crime, a carta deixada pelo agressor confirma a
potência letal do ódio a mulheres. Se nos 40 anos que separam os crimes de Doca
Street e Sidnei Ramis de Araújo nós, mulheres brasileiras, avançamos em
direitos, a estrutura de dominação patriarcal – responsável por matar 13
mulheres diariamente no país – conseguiu criar barreiras contra nossa conquista
de uma vida plena de direitos.
Uma consulta a
arquivos sobre feminicídios indicou esse como primeiro caso em que o assassino
constrói uma narrativa em relação à lei que protege mulheres e crianças das
agressões domésticas: “Filho, não sou machista e não tenho raiva das mulheres
(essas de boa índole, eu amo de coração, tanto é que me apaixonei por uma
mulher maravilhosa, a Kátia) tenho raiva das vadias que se proliferam e muito a
cada dia se beneficiando da lei vadia da penha!”
Além das
investigações e da responsabilização de eventuais envolvidos no crime (por ação
ou negligência), é necessário refletir sobre como os poderes públicos têm
colocado em xeque a Lei Maria da Penha. Apesar de ser uma das nossas maiores
conquistas, junto com a aprovação da lei do Feminicídio, a punição dos
agressores e a prevenção concreta dos crimes ainda demandam mobilização social.
Uma avaliação do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) apontou que
a Lei conseguiu reduzir em 10% os homicídios de mulheres por violência
doméstica, mas que ainda há diferentes graus de institucionalização dos
serviços protetivos às vítimas pelo país.
Isamara
Filier, ao longo de 10 anos, período que coincide com a aprovação da Lei Maria
da Penha, registrou cinco boletins de ocorrência contra o ex-companheiro por
agressão e ameaça, e também por abuso sexual contra seu filho. Sua morte se
anunciava desde 2005. Onze anos depois, com o Estado falhando na prevenção e na
proteção, o crime se concretiza.
O desejo de
exterminar a maior quantidade possível de mulheres da mesma família – como
ficou claro na carta divulgada pela imprensa – é um alerta. O ódio dos
agressores de mulheres têm sim potencial para construir grandes tragédias. É
com essa realidade que todos os atores sociais – os sistemas de Justiça, de
assistência social, e também os de educação e os meios de comunicação –
precisam lidar ao tratar da violência contra as mulheres. Somos o quinto país
que mais assassina mulheres no mundo. Na visão de agressores como Sidnei, esta
semana, ou Doca Street, 40 anos atrás, vadias somos todas nós mulheres que
lutamos por liberdade e autonomia.
A morte de
Isamara, seu filho, amigas e familiares demonstra que as Leis não findam em si
mesmas. A violência contra as mulheres é um problema estrutural da cultura
machista, racista e homo-lesbo-transfóbica, que nega às mulheres o direito a
uma vida livre e plena.
Nós – mulheres
do movimento feminista organizado – não podemos deixar que a impunidade se
perpetue. Comprometemo-nos a cobrar punições de imediato. Em paralelo aos
avanços nas legislações, que precisam ser implementadas verdadeiramente,
seguimos também na luta pela transformação da sociedade voltada à construção de
um país que garanta uma vida sem violência para todas as pessoas.
Articulação de Mulheres Brasileiras -AMB
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil - APIB
Coordenação Nacional da Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas - CONAQ
Coletivo de Mulheres Defensoras Públicas do Brasil
Coordenação Nacional da Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas - CONAQ
Coletivo de Mulheres Defensoras Públicas do Brasil
GT de Mulheres
de Axé da Rede Nacional de Religiões Afro Brasileira REAFRO
Federação
Nacional das Trabalhadoras Domésticas - FENATRAD
Movimento
Articulado de Mulheres da Amazônia MAMA
Movimento da
Mulher Trabalhadora Rural do Nordeste MMTR-NE
Movimento de Mulheres Camponesas MMC
Rede Nacional de Pessoas com HIV e Aids
Rede de Mulheres Negras do Nordeste
Rua Juventude Anticapitalista
Movimento de Mulheres Camponesas MMC
Rede Nacional de Pessoas com HIV e Aids
Rede de Mulheres Negras do Nordeste
Rua Juventude Anticapitalista
Coletivo
Nacional de Mulheres do PSOL
#partidA - construindo
a democracia feminista
União Brasileira de Mulheres UBM
União Brasileira de Mulheres UBM
União de Mulheres da
Amazônia Brasileira UMIAB
Articulação Feminista MarcoSur (America
Latina)
AMB Rio, Rio de
Janeiro (RJ)
AMB São Paulo (SP)
AMB Mato Grosso do Sul (MS)
AMA Articulação de Mulheres do Amazonas (AM)
AMB São Paulo (SP)
AMB Mato Grosso do Sul (MS)
AMA Articulação de Mulheres do Amazonas (AM)
Articulação Aids
Pernambuco, Recife (PE)
Articulação de Mulheres do Amapá (AP)
Articulação de Mulheres Indígenas do Maranhão (AMIMA, MA)
Associação Catarinas, Florianópolis (SC)
Associação de Mulheres Buscando Libertação, Cariacica (ES)
Associação de Mulheres da Serra (ES)
Bamidelê Organziação de Mulheres Negras da Paraiba (PB)
Articulação de Mulheres do Amapá (AP)
Articulação de Mulheres Indígenas do Maranhão (AMIMA, MA)
Associação Catarinas, Florianópolis (SC)
Associação de Mulheres Buscando Libertação, Cariacica (ES)
Associação de Mulheres da Serra (ES)
Bamidelê Organziação de Mulheres Negras da Paraiba (PB)
Coordenação e
Articulação dos Povos Indígenas do Maranhão (MA)
Comitê Latino-Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher (CLADEM/Brasil)
Diretoria de Políticas para Mulheres da Federação dos Trabalhadores Rurais de Pernambuco (PE)
Federação dos Trabalhadores do Serviço Público Municipal do Ceará (CE)
Comitê Latino-Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher (CLADEM/Brasil)
Diretoria de Políticas para Mulheres da Federação dos Trabalhadores Rurais de Pernambuco (PE)
Federação dos Trabalhadores do Serviço Público Municipal do Ceará (CE)
Federação dos
Trabalhadores Rurais e Agricultores e Agricultoras familiares do Ceará (CE)
Federação dos
Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino e no Serviço Público no Sul do
Maranhão (MA)
Fórum Justiça
(RJ)
Fórum de
Mulheres do Sertão do Araripe (PE)
Fórum de Mulheres de Jaboatão (PE)
Fórum Cearense de Mulheres (CE)
Fórum de Mulheres da Amazônia Paraense (PA)
Fórum de Mulheres Maranhense (MA)
Fórum de Mulheres de Imperatriz (MA)
Fórum de Mulheres do Amapá (AP)
Fórum de Mulheres do Distrito Federal (DF)
Fórum de Mulheres do Espírito Santo (ES)
Fórum de Mulheres de Pernambuco (PE)
Fórum Permanente das Mulheres de Manuas (AM)
Fórum de Mulheres do Rio Grande do Norte (RN)
Levante Popular da Juventude
Fórum de Mulheres de Jaboatão (PE)
Fórum Cearense de Mulheres (CE)
Fórum de Mulheres da Amazônia Paraense (PA)
Fórum de Mulheres Maranhense (MA)
Fórum de Mulheres de Imperatriz (MA)
Fórum de Mulheres do Amapá (AP)
Fórum de Mulheres do Distrito Federal (DF)
Fórum de Mulheres do Espírito Santo (ES)
Fórum de Mulheres de Pernambuco (PE)
Fórum Permanente das Mulheres de Manuas (AM)
Fórum de Mulheres do Rio Grande do Norte (RN)
Levante Popular da Juventude
Movimento e
Articulação de Mulheres do Estado do Pará (PA)
Movimento Ibiapabano de Mulheres (CE)
Movimento de Mulheres Solidária do Amazonas (AM)
Movimento de Promotoras Legais Populares de Mauá (SP)
Movimento de Mulheres da Floresta – Dandara (AM)
Movimento Mais Mulheres OAB Roraima (RR)
Movimento Ibiapabano de Mulheres (CE)
Movimento de Mulheres Solidária do Amazonas (AM)
Movimento de Promotoras Legais Populares de Mauá (SP)
Movimento de Mulheres da Floresta – Dandara (AM)
Movimento Mais Mulheres OAB Roraima (RR)
Movimento de
Mulheres Negras de Colatina e Região de Zacimba Gaba (ES)
Rede de Mulheres
Negras de Pernambuco (PE)
Rede de Mulheres de Terreiro (PE)
Rede de Mulheres em Articulação da Paraíba (PB)
Rede de Mulheres de Terreiro (PE)
Rede de Mulheres em Articulação da Paraíba (PB)
Associação de Mulheres
Amigas de Itinga AMMIGA (BA)
Associação de Mulheres do
Bacuri e Adjacências (MA)
Associação Brasileira de
Mulheres da Carreira Jurídica – Espirito Santo (ES)
Cabelaço (PE)
Casa da Mulher
do Nordeste (PE)
Casa da Mulher 8
de Março (TO)
Casa Chiquinha Gonzaga (CE)
Centro de Direitos Humanos Pe. Josino (MA)
Centro Feminista de Estudos e Assessoria -CFEMEA (DF)
Coco de Mulheres (PE)
Cidadãs Positivas de Pernambuco (PE)
Coletivos de Mulheres Negras Carolinas (RN)
Casa Chiquinha Gonzaga (CE)
Centro de Direitos Humanos Pe. Josino (MA)
Centro Feminista de Estudos e Assessoria -CFEMEA (DF)
Coco de Mulheres (PE)
Cidadãs Positivas de Pernambuco (PE)
Coletivos de Mulheres Negras Carolinas (RN)
Coletiva de
Mulheres de Lauro de Freitas (BA)
Coletivo Marcha
das Vadias Recife (PE)
Coletivo de Mulheres do Calafate (BA)
Coletivo de Mulheres de Jaboatão (PE)
Coletivo Maria Vai com as Outras, ES
Coletivo Mulher Vida (PE)
Coletivo Alumiá (SP)
Coletivo Quebrando Vidraças (Pe)
Coletivo de Mulheres do Calafate (BA)
Coletivo de Mulheres de Jaboatão (PE)
Coletivo Maria Vai com as Outras, ES
Coletivo Mulher Vida (PE)
Coletivo Alumiá (SP)
Coletivo Quebrando Vidraças (Pe)
Comitê Popular Urbano de
Belém (PA)
Coletivo de
Mulheres Casa Lilás (PE)
Coletivo de Mulheres Passirenses, (PE)
Cunhã Coletivo Feminista (PB)
Diakonia Organização Crsitã de Defesa dos Direitos Humanos e Promoção da Justiça (Fortaleza - CE)
Coletivo de Mulheres Passirenses, (PE)
Cunhã Coletivo Feminista (PB)
Diakonia Organização Crsitã de Defesa dos Direitos Humanos e Promoção da Justiça (Fortaleza - CE)
Espaço Feminista
URI HI (AM)
Espaço Mulher (PE)
Espaço Mulher (PE)
FASE
Grupo Cidadania Feminina (PE)
Grupo Alternativo de Geração de Renda da Economia Solidária (PA)
Grupo Curumim (PE)
Grupo Cultural Femini Nação (PE)
Grupo de Mulheres Jurema (PE)
Grupo de Pesquisa/Uepa: Movimentos Sociais, Educacao e Cidadania na Amazonia – GMSECA (PA)
Grupo Mulher Maravilha (PE)
GTP+ (PE)
IMAIS (BA)
Instituto Papai (PE)
Instituto Inegra (CE)
Instituto Paulo Fonteles de Direitos Humanos (PA)
Grupo Cidadania Feminina (PE)
Grupo Alternativo de Geração de Renda da Economia Solidária (PA)
Grupo Curumim (PE)
Grupo Cultural Femini Nação (PE)
Grupo de Mulheres Jurema (PE)
Grupo de Pesquisa/Uepa: Movimentos Sociais, Educacao e Cidadania na Amazonia – GMSECA (PA)
Grupo Mulher Maravilha (PE)
GTP+ (PE)
IMAIS (BA)
Instituto Papai (PE)
Instituto Inegra (CE)
Instituto Paulo Fonteles de Direitos Humanos (PA)
Instituto Maria
da Penha (CE)
Instituto
Amazônia Solidária IAMAS (PA)
Mirin Brasil (PE)
NEPEM-UFMG (MG)
Núcleo de Mulheres de Roraima – NUMUR (RR)
Núcleo Amélias da Marcha Mundial de Mulheres ( RN)
Mirin Brasil (PE)
NEPEM-UFMG (MG)
Núcleo de Mulheres de Roraima – NUMUR (RR)
Núcleo Amélias da Marcha Mundial de Mulheres ( RN)
N30 Pesquisas
(RJ)
Redeh Rede de Desenvolvimento Humano, (RJ)
Secretaria Estadual de Mulheres do PT (PE)
Secretaria de Mulheres da CUT (CE)
Sindicato das Trabalhadoras Domésticas de Pernambuco, Recife (PE)
Redeh Rede de Desenvolvimento Humano, (RJ)
Secretaria Estadual de Mulheres do PT (PE)
Secretaria de Mulheres da CUT (CE)
Sindicato das Trabalhadoras Domésticas de Pernambuco, Recife (PE)
Sindicato dos
Professores Especialistas de Imperatriz (MA)
Sítio Agatha – Espaço de Agroecologia Militante Feminista Étnico-Racial
SOS Corpo - Instituto Feminista para Democracia, Recife (PE)
Tribo Aldeia da Juventude (PA)
Sítio Agatha – Espaço de Agroecologia Militante Feminista Étnico-Racial
SOS Corpo - Instituto Feminista para Democracia, Recife (PE)
Tribo Aldeia da Juventude (PA)
Uialá Mukaji
Sociedade de Mulheres Negras, Recife (PE)
Zalika – Maternidade, Parto e Infância (ES)
Zalika – Maternidade, Parto e Infância (ES)
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